quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Murmúrios

Murmúrios:
Os Desabafos de Alguém que Sonha.


“Quem somos?”, “Porque estamos aqui?”, dei por mim a fazer estas perguntas. Alguns chamam-lhes de “clichés”, eu não. As perguntas são para ser feitas, e mais do que feitas, são para serem escutadas.
Algumas pessoas sabem que este Verão tive algumas experiências novas, das quais algumas, muitas pessoas nem pensariam em experimentar. No entanto, estas novas experiências ensinaram-me muitas coisas, coisas essas que mais ou menos 70% das pessoas deste planeta não iriam nunca perceber. Experiências sobre a vida, sobre o medo e sobre a “morte”.
Estava eu descansado, no meu 6ºAno, ingénuo e inocente, mas no entanto tão cheio de pensamentos, confusos, sem nexo, sem sitio para onde ir, e de repente, vindo do nada, aquelas perguntas atingiram-me do nada: “Quem somos?”, “Porque estamos aqui?”. Eu não sabia o que responder aquelas perguntas “sem resposta”. Cinco dias destas férias, talvez não os melhores, mas sem dúvida os dias nos quais aprendi mais. Aprendi a responder a estas “perguntas sem resposta” (daí as aspas).
Durante cinco destes dias de férias, fui para um campanário, num pré-seminário. Para quem não saiba, um pré-seminário é um sítio onde as crianças vão, e onde podem aprender mais sobre Deus, e mais tarde, se quiserem, podem também tornar-se padres. Estive lá, e aprendi tanto, mas tanto como nunca pensaria ser possível. Ouso dizer que naqueles cinco dias, vivi a minha vida por completo.
Como sabem, para o ano que vem, teremos de escolher a área que queremos, e esse campanário serviu para isso mesmo, para me mostrar a minha vocação. E foi isso que aconteceu, agora sei a minha vocação, mas isso digo-vos mais para o final. Para já dou-vos as minhas respostas. Em relação às perguntas sem resposta, aqui está a resposta: façam algo mais útil do que estar a pensar inútil e estupidamente! Não, não foi nisto que aprendi, estava só a brincar. A verdadeira resposta, é que cada um tem as suas respostas às suas perguntas
Quando disse que vivi a minha vida por completo, não devo ter feito explicar. Lá no “pré” (como nós lhe chamamos lá no pré-seminário), os padres ensinaram-nos, muita coisa, a entrar em sintonia com Deus, mas sobretudo, VIVER! Eu sinto que fui para lá e que aprendi a viver e a ver o que quero fazer da vida. Fizemos vários exercícios lá, e experimentámos a vida de padre, de monge, de frade, de casado, de leigo, de vivo e de “morto”. Estas foram as experiências sobre a vida.
Permitam-me um desvio, uma mudança de tema. No outro dia estava a ir para o meu quarto, e estavam os estores todos fechados, porque era de noite. Estava sozinho em casa, pois a minha mãe estava a trabalhar, e, ao atravessar corredor apercebi-me de que estava escuro. Sabem, eu tenho uma espécie de “pancada”, eu acendo sempre as luzes de uma divisão antes de entrar, se estiver escuro. Até ao pré, não sabia porquê. Agora já sei. É pelo simples facto de que, tenho medo do escuro e não o conseguia admitir. A escuridão em si não me mete medo, mas o que dela provém, isso sim, assusta. Eu sei que não me vai aparecer nada á minha frente, como um monstro que grita: “vais morrer!”, mas ainda assim tenho medo. A coragem não é ter medo de nada. Quem não tem medo de nada, não é corajoso, é estúpido! A coragem é olhar o medo nos olhos, confrontá-lo e mandá-lo dar uma volta. Descobri também porque é que tenho medo do escuro, assim como tantas outras pessoas também têm. Mas agora é que a coisa se complica. É que, eu descobri que não tenho medo do escuro, mas do desconhecido. É que, de facto, não sei o que há no escuro, é o desconhecido. E todo o ser humano tem medo do desconhecido. Sabem porque é que temem a “morte”? Eu sei, e como sei um pouco mais do que isso, já não a temo. Mas vou vos contar. Vocês temem a morte, porque não sabem o que vai acontecer depois de morrerem, e por muito que o tentem negar esse pensamento não se irá embora. Novamente o ser humano teme o desconhecido. Mesmo aqueles que enfrentam a “morte” face-a-face, sentem medo. E isso ninguém vai mudar.
Passemos agora ao assunto mais frágil: a “morte”. Deverão estar a pensar porque escrevi “morte” sempre com aspas. Porque eu não acredito na morte. Eu acredito na ressurreição dos mortos, acredito na morte como uma continuação da vida. Aliás, eu não acho que a morte seja a ausência da vida, mas a mais completa demonstração de vida. Já devia ter esclarecido uma coisa: não estou a tentar mudar a maneira de pensar de ninguém, mas a demonstrar o que eu penso. Por isso, encaro a morte com medo, do ser humano que sou, mas sem ele, pois sou cristão.
Para concluir este texto, gostava de vos apresentar o momento mais difícil desses cinco dias. Foi quando, no quinto dia, um padre veio ter comigo e me perguntou: “João, queres ser padre?”. E eu pensei, pensei que talvez esta era a minha vocação. Comecei a imaginar fragmentos deste texto, como um texto de despedida, uma forma de terem sempre uma recordação minha convosco. Soube nesse momento que se dissesse “sim”, tinha de ir viver para um seminário, de dizer adeus a todos os meus sonhos e expectativas para me tornar padre. E aí percebi, percebi qual era a minha resposta. Eu respondi: “Eu quero estar mais próximo de Deus, quero aprender mais sobre Ele, quero ser mais do que sou agora. Mas, não estou disposto a abandonar tudo, a largar as minhas esperanças e sonhos em troca disso. Obrigado Senhor Padre, mas não. Pelo menos por agora.” E como me custou em decidir isso, mas soube o que queria ser apenas no meu último dia lá. Eu quero ser escritor, porquê? Não sei. Mas sei que é isso que quero. Escrever. E espero que este seja o meu primeiro entre muitos textos que escreva, por vontade própria e por gosto.


Obrigado a todos os que lerem este texto,

João